O tempo que vivemos não volta. Não volta mais. Depois de ter conhecimento que o meu ATL, o meu querido ATL, com as minhas fantásticas educadoras, auxiliares e cozinheiras foi en-cer-ra-do! e o despedimento colectivo!! Dá-me um aperto no coração, tão forte, que me deixa tão triste e tão nostálgica... Fui feliz, tão feliz na minha infância mas, mesmo. Tenho muito orgulho por poder dizer isto em plenos pulmões pois sei que nem toda a gente tem a mesma sorte.
Parte da minha pessoa, o que me tornou no que sou hoje, deve-se a essas pessoas que nunca me fizeram desacreditar nos sonhos, me incentivaram, me mimaram, me curaram as feridas com betadine, me deram um puxão de orelhas quando me metia às cambalhotas nos ferros ou à bulha. Me abraçaram quando chorava, me limparam as lágrimas quando estava triste. Tentavam compreender as minhas frustações quando não alcançava alguns dos meus objectivos (sim, eu era muito rígida comigo mesma nos estudos). Sorriam quando contava alguma coisa com graça ou quando pensava que a teria. Ouviam as minhas histórias sem demonstrarem cansaço ou má cara e eu tinha cá o pé pesado quando carregava no pedal da imaginação.
Passava a vida a jogar futebol e quando se disputava, ano após ano, o torneio entre ATL-Escola eu fazia sempre parte da equipa do ATL. Saltei os muros para ir roubar fruta nas árvores do pomar do vizinho, joguei à malha, à macaca, fiz de power ranger amarela, ou "sheillermoon" ou como se escreve, um dois três macaquinho chinês, joguei à apanhada, às escondidas (com o famoso rebenta a bolha!), "- Mãmã dá licensa?; - Quantos passos?" ou ainda a Fitinha Azul ou o Cucu e as suas couves.
Brinquei muitas vezes no parque infantil, nos baloiços, no escorrega. Adorava as aulas de teatro (depois de sair de lá, continuei a fazer teatro amador por mais 8 anos), de música, de inglês (sim, na altura era muito raro ter-se uma língua estrangeira na primária), a horinha na ludoteca a brincar como se não houvesse amanhã, as tardes a ver dragon-ball e a jogar tazus e a plantação de batatinhas, cebolas, feijão e outras na nossa pequena hortinha. Viva a jardinagem!
As aventuras na sala de pinturas, era cada obra de arte upa upa! Tantos carnavais, magustos, cerimónias de natal e de final de ano. Lembro-me como se fosse hoje quando fui finalista, no 4º ano de escolaridade. Recebemos todos um caderninho com uma lembrança dos nossos coleguinhas de ano e de cada educadora e auxiliares. Cada um tinha uma página para escrever ou desenhar o que melhor entendesse. Cada um fez para todos e todos receberam um mimo de cada um. Devo ter isso arrumado nas tralhas da arrecadação. Tenho de vasculhar bem, até encontrar.
Depois de lá sair, voltava com frequência para matar saudades das pessoas, do local, ver a cara dos míudos quando estes perguntavam com curiosidade às minha educadoras: "Quem é?" ao que elas sempre repondiam: "É uma menina que andou cá na escolinha à uns anos atrás." Isto fazia com que pensassem já termos laços de irmandade ou assim pois, a pergunta seguinte surgia: "Como te chamas?" e quando me apercebia já vinham as propostas "Queres brincar connosco?" Enfim, eu e as crianças ;)
Gostava de ver como aquilo estava diferente, como se tinha desenvolvido sem mim, como envelheciam as minhas "mestras", as "minhas segundas mães", como as nossas conversas se desenvolviam, voaram, como íamos tomar cafés depois de saírem. Sentia-me sempre especial e fazia sempre questão de demonstrar o quanto grata estava por me terem acompanhado enquanto crescia e o maravilhoso que foi conviver com elas durantes aqueles anos. Não podia simplesmente desaparecer das suas vidas, regressei por assim dizer, sempre ao ninho.
Mas agora sinto-me revoltada por ter sido tão inesperado, "perder" assim um pedaço na minha vida que estava tão cuidadosamente guardado bem no fundo do meu pequenito coração com tanto carinho, pular de memória em memória como se películas de um filme a preto e branco se tratassem.
[ E porque eras Tu quem me ias sempre levar e trazer à escolinha,
faz-me ainda mais saudades recordar. Mas, são tão boas memórias.
Fomos tão felizes e eternos companheiros. Fazes-me tanta falta.
Hoje só queria o teu colo para chorar e que me envolvesses
num abraço tão apertado que sentisse algum conforto e se
dissolve-se alguma desta mágoa.
Só por hoje queria voltar a ser pequenina.]