Eu Perdoo-te
Não foi fácil. Os dias, as noites. Os dias (que eram tão dolorosos) e tantas outras noites. Senti que te perdia aos poucos, que a nossa amizade se desfazia. Só me disseste: "Lamento." O que eu chorei (e ainda choro às vezes), o que eu tentei reaver tudo (e ainda tento). Mas eu não conseguia, eu nunca iria consegui-lo porque estava a passar por um momento muito doloroso. Condenaste-me por não querer ajuda. Eu também hoje me condeno por isso. Mas se fosse mais cedo, o que mudaria? Ainda sentiríamos o mesmo?
Eu estava sempre a falar no meu sofrimento. Sim, fui egocêntrica. Não estou a dizer que tiveste culpa de tudo. Porque tentaste, tentaste mas, a impotência do me ver a chorar ininterruptamente, tanto te confundiu. Eu estava muito diferente mas não tanto que não soubesses o valor que tinha, o quanto estaria sempre ali para ti (e ainda estou).
Eu precisei tanto de ti, mas tanto e, não te tive. Eu precisei que me abraçasses e me limpasses as lágrimas quantas vezes fossem precisas. Porque eu fiz e faria isso por ti a que hora fosse, quando fosse. Tu bem sabes. Faltei-te alguma vez? Faltei? Subestimei-te de mais? Talvez me desiludisse, assim como tu também te desiludiste com a minha apatia, a minha falta de coragem, a minha inércia, a minha falta de garra, de objectivos, a minha revolta.
Que pesadelo foi sentir que tudo desmurrumava à minha volta. Estava a auto-destruir-me e a obrigar-te a ver-me desaparecer aos poucos. A sugar a minha vida, a deixar-me dormir. Dormir. Dormir. Dormir para não ter que pensar. Tu não fazes ideia do que era perigoso para mim estar acordada, a pensar. Pensar era o pior dos venenos, dos meus pesadelos. Mas sabes, eu não conseguia deixar de ter esses pensamentos, essa profunda tristeza.
Passava os dias sozinha no quarto. Dias e dias e dias. Um dia, fui-me embora. Fugi? Talvez. Mas levantei-me sozinha. Sozinha. Imaginei que fizesses outra coisa, que estivesses lá. Mas, eu... eu perdoo-te.
Não sei se algum dia a vida te mostrará o quanto perdeste com isto (o quanto eu perdi também, nós acabámos por perder). Não te desejo mal nenhum. Mas também já não tenho pena por nós. A vida é mesmo assim. Há peças que quando se partem nunca mais voltam a ser as mesmas. Gosto-te e gostas-me mas já não somos as mesmas. As mesmas àquela nossa maneira mágica antiga. Dois anos foste minha e eu tua. Éramos as melhores amigas.
E eu perdoo-te, continuo a perdoar-te porque quero. Não sei se algum dia me perdoarás também. É contigo.
Comigo está tudo dito.
não conseguir perdoar é trazer um peso imenso às costas...será que vale a pena?? beijinho